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sábado, 4 de julho de 2009

não, não...

não me beijes os lábios, não passam de histórias para adormecer.
não me enterres em 1001 lençóis, são instintos a que não quero ceder.
não grites "para sempre", promessas nunca para cumprir.
não fales da cor dos cabelos e dos nomes dos nossos filhos, jamais verão a luz do mundo.

aquece-me a testa com o roçar da tua boca em gesto de compreensão e deseja-me boa missão.

até sempre,
(mas afinal de que servem despedidas se all the damn world is just a strange illusion?)

[o personagem desaparece de cena envolto em fumo, apenas uma forma de tornar misteriosa a queda de um anjo]

[ajoelha perante a Luz]

- aqui me tens conhecimento superior. não mais serei eu para ser parte de ti. renunciei.

[apaga-se a Luz]

"afinal que fazia eu num mundo onde imperam deuses que não os da minha fé?"
(renunciei. mas não em vão!)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

alfa e ómega

Foi um salto quântico, o que é que me deu? Brincar com o fogo e engolir espadas já não devia fazer parte do meu imaginário senil. As razões foram um cenário que evocou um déjà vu e uma recordação que recolocou as personagens, tu e eu, naqueles papeis (a esta hora com cheiro a mofo e amarelecidos).

Divergências no destino que provam a inutilidade de escolhas que pensei axiomáticas e indispensáveis. No fim, tornaram-se em meros passa-tempos, quebra-cabeças, actividades a que o cérebro se entrega porque não tem unhas para roer. O seu efeito num oceano imenso de alternativas aleatórias torna o seu valor residual.

Tudo isto não são mais que esperas prolongadas por um destino que me olhe nos olhos. Nem de cima para baixo nem de baixo para cima. Ao nível. Cruzar-me-ei com ele na rua, entre um cisma e o outro. Mas não haverá nem alfa nem ómega. Será simples, como os passos que dou até ele.

(...)

domingo, 5 de abril de 2009

um somos poucos para fazer uma tribo

Tenho a garganta arranhada do fumo quente. A vista turvada pela sangria que arde. Sei que mais ninguém se importa. De hoje em diante acordarei todas as manhãs numa cama diferente e serão 365 ao todo. Farei o garrote bem apertado e deixarei que a colher fique branca por cima e negra por baixo, queimada ao calor da vela. Nada levarei comigo que me canse os ombros. Conhecerei o pôr-do-sol e a madrugada de mil cidades.

A minha mais recente conquista foi uma teoria: a inconstância destes tempos faz com que se morra muitas vezes. Morremos porque mudamos. Simples. Morrer é deixarmo-nos de nos ver. De nos ligar. Porque sim e não porque o pedíssemos. Advinha? Porque morremos. Já nem sequer me lembro de como foi o cortejo fúnebre nem se havia convidados. Morri e espero calmamente. Incubo a frio uma nova visão sobre o mundo, um novo ponto de vista, um ideal diferente do que morreu. Porque o mataram? Porque o cegaram.

Guardo todo este carinho (nunca pensaste que o pensamento chegasse a esta estrada deserta, confessa) e toda esta vontade de partilhar para quem (não existe) me diga que não quer nada em troca. Que me quer apenas saber vivo para que seu coração bata. E aí darei, esbanjarei tudo o que me restar e saberei onde dorme o sol nas noite frias de luar.

Até lá, juro e jurarei beber da minha liberdade e viverei 100 anos para me ver cair. Renunciarei à roda livre dos sentimentos (em que se mudam cheiros e braços mas não as falsas palavras). Tornarei a rotina dos dias redundante. Procurarei o brilho no olhar, não o objectivo a alcançar. Estranho ser este, que perguiça por abrir as asas em aerodinâmica louca e prefere o ninho de pauzinhos, certo, amante, acorrentado.

Serão 365 as noites. 365 os dias. Tenho fé (não em deus, for god's sake) que a força que me percorre as veias não mais se apagará. Não haverá rescaldo. Só mortes intermédias, inevitáveis como teoricamente previ...

terça-feira, 10 de março de 2009

lit up a candle, show me the way

"deus pai todo poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna"..."senhor eu não sou digno que entreis em minha morada mas dizei uma só palavra e serei salvo"..."deus do deus, luz da luz, deus verdadeiro, deus verdadeiro, gerado não criado"..."por ele todas as coisas foram feitas e por nós homens e para nossa salvação desceu dos céus e no seio da virgem maria encarnou e se fez homem"..."saudai-vos na paz de cristo"..."perdoai-nos as nossas ofenças assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação"..."de igual modo no fim da ceia tomou o cálice e deu graças dizendo tomai todos e bebei este é o meu sangue que será derramado por vós"..."ide em paz e que o senhor vos acompanhe" - Graças a DEUS

A urna (politicamente incorrecto chamá-la de caixão) lá ao fundo. Mantenho-me firme. Nem lágrimas nem ladainhas. A contradição da crença humanizada deixa-me apático (escusado será referir a apoteóse do cestinho da esmola em plena celebração, cúmulo da satisfação "espiritual").

Creio em mim. Em sentir o cérebro queimado por ser um ignorante que gosta de aprender. Em sentir os músculos clamar pelo fim e não lhes ceder. Em sentir o sorriso que brota de dentro ao olhar a linha que não existe, lá no fundo. Em procurar o meu rumo. Em sentir cada batalha perdida e mesmo assim não desistir. Em lançar-me em becos sem saída só para aprender como escavar paredes. Em realizar que a luta diária não mudará o mundo mas tornar-me-á mais eu. Creio eu um só eu.

Mas, sei-o, todos os credos têm as suas contradições. Comecemos então. Quantas vezes me apeteceu gritar "lit up a candle, show me the way"? Lançar um pedido de socorro? Pedir que me levem em braços quando embato violentamente no fundo do poço? Um lamento não ouvido, um carinho não recebido. Uma luz ao fundo do túnel que nunca se acendeu. Tropecei, caí... É como falar no fundo do mar, inútil. Poderia procurar por essas ruas o meu eco. Nada encontrar ou o meu destino achar.

O eco não retorna, a alma está despida. Exposta. Todos fixam o olhar no passeio e evitam olhar de frente. Serei a luz? Não, bem mais modesto. Nestes momentos, sou um pseudo-eu à procura de algo fugaz. Inalcançável. 

domingo, 1 de março de 2009

sublevação

Sempre, antes de me deitar, alinho a margem inferior da folha vazia com o limite da secretária. Perfeitamente paralela à margem lateral esquerda, a uma distância uniforme de três dedos, deixo que descanse a caneta. Até aqui a melodia é serena e com maior ou menor esforço consigo que o sono e o sonho se fundam numa só pedra filosofal.

Mas, invariavelmente, quando os primeiros fios dourados ameaçam trazer a claridade os sinos repicam-se e os violinos esfregam-se a um ritmo desenfreado, melodramático. Todas as manhãs encontro a folha amarrotada em forma de Terra e a caneta, sangrada, espetada de um lado a outra como eixo de rotação desta bola de papel. Ao observar este cenário recordo-me, também invariavelmente, de que tinha algo sobre que escrever. Passado, recordações, sentimentos, euforias, calores, frios, ansiedades, planos,... Era um livro de histórias, um romance em Verona, umas memórias, um ensaio filosófico, uma teoria política, uma patente, um teorema,... Esfumou-se. Perfeito: dado o trabalho racional do dia anterior como perdido começa a ficar tarde e tenho de começar a teorizar para que amanhã, sim esse vai ser o dia, consiga ao menos inspirar o título.

E isto sempre, em eterno retorno. Começo a pensar se não estarão as ursas, a maior e a menor, com a ajuda da polar de alguma forma a conspirar, preparando-me, todas as madrugadas, o cenário que torna vãs as minhas ligeiras progressões.

Poderia, uma vez, experimentar escrever pela noite e espantar de vez o vilão mostrando que até sou capaz. De escrever o pensado, pensar o escrito e assim triunfar entre duas realidades que, para sentirem que estão em casa, chamam sempre a sua irmã, Solidão.

Talvez um dia, quem sabe.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

vidinha

Existem dias (não hoje!) em que acordo com vontade de...
  • Um empregozinho normal: das 9 às 6 com uma hora para almoço. Saio e não penso mais nisso.
  • Uma conversazinha banal: no café e sobre futebol com os amigos e uma cervejola.
  • Uma esposazinha igual: em casa a fazer a comida e sempre pronta a agradar-me.
  • Dois filhozinhos comuns: na escola ninguém os atura, em casa a playstation salva a situação.
  • Um pensamentozinho estereotipado: "que dia cansativo. vamos ver TV".
  • Umas feriazinhas frequentes: a ver o mar enrolar na areia durante todo o Agosto.
Mas, vidinha esta que não és a minha, mantém-te longe! Serei bem mais, se não para os demais, para mim, o eu+.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

hoje mora cá uma reminiscência

Caçava por entre as ramagens rasteiras. Procurava a presa que satisfizesse a fome dos meus. O conceito era simples: descobrir, a ontar, atirar. Se a lança se pe dia no caminh  e o animal fugia ileso não me pesaria mais o sono por isso. Procuraria outro! No grupo de caçadores não havia líder. Mais tarde viriam a comparar o nosso comportamento ao de um bando de aves, que não tendo um pássaro-rei rodopia em a robacias síncronas por esse azul p ro.
E quando a noite chegava acendiam-se as fogueiras (nossas únicas candeias) e em jeito de carinho passavam-se de pais pa a filhos piolhos e mitos. A jovem da aldeia a quem prometi meu s ngue para sua linhagem espera, se ena, que a aspereza de meus corpo e alma encontrem o que de mais delicado ela tem. Quando chego não encon ro o olhar submisso que me tornaria pr scindível. Encontro-lhe no negro da íris um desafio, como uma montanha que p de sempre que lhe cheguemos ao cume mas se mostra assaz per gosa. Mas quando o silêncio caía e ju tos fechávamos os olhos, de mãos d das, num ronronar le to el giava-me as caçadas e sussurava "dorme em paz leão porque essa savana é che a de iguarias e nada terás de temer do dia depois de hoje" desde que a lança se man enha afiada e conhec dora do caminho.

Corriam assim os dias felizes da minha vida quando um pequeno bastardo da aldeia reclamou para si a resposta para a sua dúvida: porque se ergue todos os dias o astro-rei? Desdenhoso das tradições não se contentou com a confiança eterna que a nossa aldeia depositava no Sol. Sempre se havia apagado, mas todas as vezes voltara. E isso era suficiente. Mas não para o menino de coração pequeno. E depois dessa, vieram todas as outras dúvidas físicas e existenciais que conheço hoje e me atormentam à noite, quando me deito, sozinho, sem alento para subir a cumes e por isso ser vivente desta solidão.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

grunhês

Eram dois. O primeiro foi tirado do cubículo e à força de dez homens colocado em cima do estrado. Amarrado por cordas e mal podendo respirar sentiu que o que quer que se fosse passar ali, depois disso, a sua vida jamais seria o que era e haveria de ser diferente. Uma pontada na garganta fê-lo gemer. O frio da lâmina e o quente do seu sangue criaram uma mistela morna, como que um derramamento de alma. Sufocou o grito seguinte, não o fossem tomar por cobarde. Mas o fio cortante continuou o seu caminho numa jornada que, lhe pareceu, durou anos. As pessoas em seu redor não se limitaram a tirar-lhe a vida. Exigiram-lhe que sangrasse toda a sua força em gritos lancinantes e riram-se por ter defecado de dor.

O outro, até agora não mencionado, estava congelado dentro das suas quatro paredes. Qual a fonte de todo aquele lamento intempestivo? Deu com a testa na porta. Deu com as pernas. Tentou a moda do cavalo. Mas nada, aquela porta comportava-se como se lhe tivessem dado a profissão de pedra tumular. Os gritos tornavam-se mais ténues a cada avanço. Finalmente, nada mais se ouviu. E agora ele voltará, suspirou aliviado. Esperou, desesperou... Inútil. Jamais regressaria aquele a quem calou as palavras de ontem por não querer ouvir mais mentiras. Para todo o sempre e um dia ficaria com a imensa necessidade de exprimir os sentimentos que guardara para si na noite anterior. Porque eram para ele. E talvez lhe fossem tão úteis como um farnel para a viagem. 
Mas porque foi ele chorar para os campos e a que conclusão chegou para não mais ter voltado? A culpa é minha, a culpa é dele, da circunstância que nos rodeia que não nos foi favorável e violentou-nos como os ventos do Norte?

Já o primeiro, a esta hora rodeado de quarenta virgens, engolia borboletas para que lhe fizessem prurido no estômago. Infligia-se a si próprio uma mágoa colossal por ter partido sem avisar, mesmo sabendo que não houve oportunidade. Porque não tivera ontem a força que lhe sobeja hoje para acarinhar todos os lamentos do outro? Porque se rendera ao cansaço e deixara cair no campo de batalha o estandarte que, de há muito, era orgulhoso e guloso portador?

Em uníssono mas sem saberem que o faziam grunhiram: o que calar hoje, calarei para sempre! Não mais será o dia e o que quereria exprimir será corrompido pelo tempo, pelas gentes, e pelas paisagens. E se hoje calo o que teria para te dizer é porque hoje não estás no teu lugar. Não porque não tenha nada para te dizer.

O que me quebra a cabeça é que não sei qual dos porcos sou: se o que foi, se o que ficou.

Mas que tal dúvida não me fique. Já se ouvem as botas bater o chão em ritual, as varas estão no ar e os nós apertam-se. É a vez de o outro, o que ficou, espernear-se e quem sabe, percorrendo a escada que sobe ou a que desce conhecer o verde dos longos trilhos do paraíso (cuja entrada, um dia a descrevemos, era uma praia deserta com uma torre de vigia em madeira encimada pelo sol de inverno, aquele que nos tira da depressão) ou o quente e cinza do ardido.

Hoje exceder-me-ei nos vícios. Farei por merecer os fardos que transporto. Quando a luz do novo dia chegar tudo se manterá como num pesadelo que não passa ao acordar. Mas que interessa tudo isto se feridas não se curam sem ardor?

Se imaginar as entranhas do meu cérebro como uma casa, sou capaz de o descrever melhor. A sala de estar poeirenta e sem vida. A casa de banho com a sanita entupida. O quarto com o meu corpo pesado. E o sotão, para onde atiro tudo sem me atrever a lá entrar. Quando a estreita entrada se enche com uma vara empurro o que está lá dentro. Tudo bem amassado. Sem ordem alfabética ou ordinal, uma torre do tombo depois do tombo e não antes, quando ainda era um arquivo nacional.

Mas sei que falo grunhês e o que para mim é um triatlo pelo meu pensamento, aos de fora será um belo conto, parábola talvez. Sua moral a ninguém arde e rapidamente se esquece. Porque textos, qualquer Pessoa os faz (nem que para isso fume o seu baseado).

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

proud

- Relax man. You don't have nothing to kill or die for!
- You know, that's exactly my problem.
- Of course I know. That's mine too!!

Still searching for something to be proud of.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

ad perpetuam memoriam

Não guardo Rancor. Antipatia. Ciúme. Ou qualquer outro sentimento soletrável pelo abecedário do mal. Apenas quero a paz em mim para que meu peito em chamas tenha como rescaldo a solidão que me mostrará o recto caminho do bem. Resignarei a títulos e revogarei cláusulas. Subirei ao pico mais alto para sentir o frio da ausência de sentimentos. Aí será obrigatório o amor por mim próprio, para que me agarre à vida e não me lance do abismo na esperança fatalista (logo desde o primeiro momento) de vir a ganhar asas de águia real.

Será Baltazar, o mesmo que em tempos serviu o fiel Romeu, quem irá lá ter com as novas de que um estranho ser molha seu leito de cristais sódicos, todas as noites. E de dia, noite cria em seu recanto para que o Sol não se atreva a desviá-lo da sua tristeza. Nem à alameda dos sickamours empresta já seus passos tentando, em grande ou pequeno pranto, reviver memórias que um dia foram sonhos de um futuro que haveria de ser diferente.

Mas mãe Terra nos acudirá. Ternos amantes, pensais que não fui já espectadora de tantos dramas passionais como este? Pensáveis ser diferentes (como todos). Pensáveis estar mais lá em cima (como todos). Sonháveis um futuro sem igual em que vossa história largos anos após a vossa morte fosse ainda digna de lágrimas teatrais (como todos).

Meu sofrimento (se o é realmente) encontra o seu reflexo em cada ser desta humanidade igual a si própria. O único senão é que este dói cá dentro sem passar por labirintos neuróticos que o suavizem.

Agora, como antes e sempre, ad perpetuam memoriam.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

arquivaDor

Se tudo se resumisse a usar o furaDor, abrir cuidadosamente o arquivaDor e colocar lá dentro as páginas sangrentas da nossa existência certamente se pouparia uma quantidade incalculável de sal e a necessidade de com o agrafaDor coser as peças de um cristal partido. Cristal não pela sua beleza como facilmente se imagina, mas pela sua tão amarga fragilidade (ups, não é o cristal o padrão científico de dureza e por isso uma analogia mal empregue?). 
É que se as entranhas não se revolvessem e as sinapses não nos levassem por contos de príncipes e princesas de que nem os trovadores nos seus melhores credos se lembrariam... bem... a vida seria uma rosa sem espinhos.
E de que viveríamos nós sem esta morte lenta que nos faz ver a vida correr inutilmente sem que isso nos preocupe minimamente?
Deixa andar, jerbásio, que se o curaDor for decente em menos de uma semana te veremos saltitão e sorridente, qual Dom Juan, procurando outra razão, para, em menos de uma penada, voltar aos prantos que afinal são o pão nosso de cada dia (e assim nos dai hoje, amanhã e depois!).

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

sucção

Mergulho e rapidamente sou sugado. Nem foram precisas as técnicas que me tentavam ensinar na piscina há uns anos! Ai Passado, Passado. Porque te vejo quando olho para o lugar do passageiro e tu não estás? Porque te chamo nas ruas que gastámos com os nossos passos e tu não apareces? Porque foste embora, Passado?

Viver não é mais o nome da minha existência. Chama-se morte lenta a isto que constitui, partícula a partícula, o meu ser. Passado, porque não te limitaste a passar simplesmente? Tinhas também de me levar o sorriso e a vontade de reinar o meu mundo?

Como um sistema isolado e não divergente rompi com tudo (afinal não era preciso romper com muito!). Para a frente o abismo, para trás o rio de correntes fortes que não ouso voltar a enfrentar.

Mas não, não é o fim. "Sou como as árvores e morro de pé!" Chegou a hora,...

sábado, 17 de janeiro de 2009

cachorreo

Não quero o poder para mim. Não quero reinar sentimentos, euforias ou povos.

Apenas anseio o poder da mente. Desejo ardentemente encontrar aquele portal que me fará ir para além das questões cósmico-tecnológicas. O mundo precisa de uma revolução estrutural, gramaticalmente profunda. Não basta mais inventar novos gadgets ou ciências revolucionárias: é fundamental ir mais longe do que o percepcionável num confronto racional sem limites.

Com tamanha tarefa a via mais fácil de a concretizar seria o suicídio. Mas isso seria renunciar a uma guerra de que eu não me quero demitir. Sou guerreiro do meu mundo interior, e por nada baixaria as armas e as bandeiras. Poderá tudo reduzir-se no final ao fracasso mas terá sido a minha pequena contribuição para que gerações futuras encontrem aquilo cujo esboço não vos posso fazer, mas cuja necessidade de o conseguir faz com que me continue a alimentar e a satisfazer as necessidades mínimas.

Chamei-lhe o cachorreo da minha vida. Como numa mina, sou mineiro que trabalho o mês inteiro não por um salário mas por um simples turno de trabalho próprio. Se nessas escassas seis horas acontecer que encontre algumas gramas de ouro serei rico e não mais precisarei de descer ao sub-solo. As probabilidades são baixas, eu sei. Mas a simples sensação de que é possível alivia-me a dor e os tormentos. Apenas uma questão mais se coloca neste ponto: não sei de que cor é nem a que cheira o meu metal precioso.

Assim eu procuro a equação que transformará tudo. Eu e tu deixaremos de ser dois, passaremos a ser fantasmas de um castelo sem chão nem tecto, nem muralhas nem amuradas. Aí trataremos por tu e pelo nome todas e cada uma das estrelas e o conhecimento aparecerá vestido de novo e imprecedivelmente distinto do que é como o conhecemos hoje.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

1001ª tentativa de explicitação

Quero chamar o comboio. Quero pedir-lhe que pare neste apeadeiro porque todas as almas penadas me enviaram missivas dizendo que "partiram no primeiro comboio sem bagagem ou sequer destino". Agora é a minha vez.

É estranho o significado semântico-literário dado mas sempre que uma personagem parte na primeira locomotiva sem saber onde dela vai descer é certo que procura algo maior e que sente que os céus deste ar que a rodeiam estão a desabar. Mas tudo isto não é preciso dizê-lo. Todo o zé-ninguém sabe, por experiência desafortunadamente própria ou porque já viu muitos sucumbirem à sua volta e espera pacientemente irritado a sua vez. Paciente porque é o destino. Irritado porque não o pode mudar.

Apenas um desejo de moribundo: no sistema bomba-rastilho em que eu sou a bomba e a linha da minha vida o rastilho peço que ninguém se intrometa. Deixa queimar, deixa ver chegar ao meu horizonte o fumozino branco da glória, deixa sentir o cheiro a fogo de artifício, deixa absorver a cor dessa chama libertadora. Talvez percebendo o fim próximo possa entrar em apoteose ainda em vida e chegar mais dentro, mais fundo do ser das coisas e do sabor dos sentimentos. Se nem esse propósito servir tenho outro desejo ainda: acende o rastilho mais próximo, quero sentir esse calor perto!

Porquê essa angústia de me ver entre a espada e a parede? Caminho no fio de uma navalha com a ponta de um sabre a picar-me as costas e dois canos cerrados encostados ao meu "peito em chamas". A massa encefálica pesa-me. O olhos semi-cerram-se. O sobrancelha franze-se e a atenção prende-se ás pedras da calçada. Rostos que não quero ver, corpos que não quero cheirar. Ninguém tem nada para partilhar. Não conheço os vizinhos e sei que me amaldiçoam por entre os dentes se tento ser simpático e cordial. Fazes-me falta ò liberdade espiritual.

De manhã fui ver o mar, à tarde fui ver o mar, à noite fui ver o mar. Ele partilha-se. Mostra a sua fúria e a sua calma e com alguma sorte até nos sopra algum do seu humor. Só tem um defeito: não se interessa pelo que tenho para lhe dizer e mostra-se impassivo ás minhas conclusões triunfais ou ás minhas dúvidas mortais.

Afinal, apenas mais uma tentativa frustrada de ligar logicamente frases e parágrafos. Essa maturidade, como outras, há-de um dia chegar...(até para ser rei é preciso nascer, crescer e reinar!)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

segredo

Branco. Onde vês o branco? 123fkg69s06f3ehjs, consegues encontrar o padrão? Consegues decifrar a mensagem? Just a quick note: mathematics is everything, mathematics is everywhere. Mesmo que a tua mente não seja suficiente, mesmo que não consigas perceber a lógica ela está subjacente: à espera que tu a encontres, segue-a!
Apenas dentro de ti encontrarás a definição de branco. Nunca ninguém te pode ter apontado uma coisa e dito: esta é a brancura com que deves comparar todas as semi-brancuras do mundo. Esta é a que está acima de todas as brancuras. Quando vires um branco diz, este é um quase-branco comparado com aquele que um dia me mostraram!

Achas isto plausível? Se sim, desiste e morre. Não valerá a pena o esforço de mais um suspiro. Não queimes mais oxigénio se és um daqueles que insiste em encontrar a verdade fora dele.

O branco está em ti, em ti, em ti... Não será o nosso branco mas será o teu branco, aquele com que comparas o leite e a toalha da mesa, a porta do frigorífico e o fundo do bloco de notas.

Subindo um pequeno degrau na escada da perfeição, quem te ensinou o que era lógico? Como separas o lógico do ilógico? Não venhas com essa de que um dia te ensinaram que x + 2 = 4 <=> x = 2 era a lógica feita filha do homem! Tudo é números, tudo são padrões: dentro de ti, just inside.

Mas não te faças inside out para mostrares aos outros qual é o teu branco e a tua lógica. Limita-te a prosseguir a saga, se fores Homem capaz para isso. Procura nos silêncios a resposta: introspectiva-te, regenera-te, triunfa. Tu és o portador do segredo (não que a mim me interesse o teu pequeno dilema; do meu ponto de vista só existe um segredo: o meu próprio!) e não te podes demitir da competição. Tu tens de encontrar. A via existe, resta alcançar.

Olha à tua volta. Está? Outra e outra vez, por favor! Terás chegado à mesma conclusão que eu? Não falta qualquer coisa? Está incompleto, obscuro, atrozmente indefinido. Parece faltar uma estrela no céu esta noite, parece faltar um grão de areia nesta costa. Mas que dor, que zumbido causa esta falha! Está longe, para lá do espaço sideral ou de qualquer espaço. Mas falha. Não permite a perfeição. Engulo a bafurada tentando voar e tocar mais alto o céu... Onde raio pára o ponto final desta composição infantil que escrevo a cada dia da minha vida?

Advinha: é o segredo que transportas dentro de ti que te suga toda a atenção para a imperfeição infinitesimal desta circunstância em redor. Introspectiva-te, regenera-te, triunfa!

domingo, 21 de dezembro de 2008

fim do dia...

Quando as trevas chegam sente-se. Sente-se a falta de alguém que preencha esta nesga dolorosa do nosso tempo. Por muito grandioso que seja o objectivo que perseguímos desde o primeiro piscar de olhos ao acordar ele parece vão e supérfulo se não temos quem nos responda a sentimentos gritantes de frustrações e alegrias palpitantes (podendo estar a mesa de jantar cheia de gente e a sala carregada de mentes sucumbidas à caixa negra).
 
Não tomem a narração como ode ao meu fado. Nem tão pouco como pedido de socorro deste eu desgraçado. São coisas pequenas e bizarras as dúvidas precoces que me abalam quando na rua tudo sossega e sob o manto escuro me escondo. Não são questões a levar em conta nem motivos de grande preocupação externa. Só a mim doem, só a mim fustigam...
 
Ao fim do dia perguntas-me, Que fizeste hoje?, Eu? Inventei a roda 15 vezes (e tentei escrever como Saramago uma única!). Nada de inovador saíu deste cérebro calejado (já que as mãos nunca viram o arado!) e apenas uma questão se formulou contra o pré-estabelecido: será este o caminho para um conhecimento profundo, enriquecido e capitalizadamente inovador (não ao capitalismo!) que um dia sonhei possuir como única maneira de conseguir olhar o Sol de frente e deixar as sombras platónicas a quem com elas se contente?
 
Mas, sem rodeios nem hesitações, grito: fazes-me falta oh lar doce quente! Que se dane a construção teória do sinal contínuo ou discreto ou a tentativa filosófica de gestão do meu pobre espírito cortando-lhe lenha para que um dia se queime. Se me calo perante o mundo é porque do mundo nada ouvi passível de um momento reflexivo curto ou longo e dopaminante (e eu aprendo com os erros dos outros!).
 
Resumidamente, e para terminar, depois do tu-cá-tu-lá diário com o Diabo é cortante não encontrar uma chávena fumegante de acolhimento servida à ceia. Acolhe o meu sentimento, não o meu eu que procura respostas numéricas em livros interessantes mas delapidados de vida...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

super-ser

Quero deixar aqui um acto de coragem. Quero revelar-me. Quero que saibam que não sou quem vêem, que não sou quem sou...

Sentir que o próprio chão já não nos suporta faz-nos bem, faz-nos voar! Haverá algum problema em a minha vida ser sonho sem tristeza nem mágoa que o acordar não apague? Doce sonho que vieste, recordarte-ei. Pesadelo intrometido, estás esquecido! A fórmula é simples. Ou pelo menos parece. Para quê exigir-me subir ao topo daquela alta montanha se lá posso chegar sem mesmo dar um passo? Que ganho em realmente tocar o pico mais alto? Se conseguir iludir os meus sentidos, se conseguir imaginar realidades com todos os pormenores viverei como e onde quiser sem me preocupar com o que os outros pensem. Rindo-me por dentro. Esboçando sorrisos que nunca ninguém será capaz de partilhar. Isto de sonhar desta maneira é uma arte só minha, só minha...

Não tens o direito de me acordar (arrancarias a alguém a felicidade?!). Tu que brincas assim desse jeito disconforme com os meus padrões. Tu que não me és nada. Tu que me deixas ligeiramente enjoado. A banda sonora das nossas vidas está desajustada aos sentimentos momentâneos. Nunca sentiste a necessidade de numa determinada cena da tua vida ouvir o sussurro de uma música como nos filmes? Concentra-te, e aí a terás. Será só tua, só tua...

E desta forma seremos só nós, só nós: os entes felizes de uma esfera achatada e sem rumo. Dás-me a mão, dou-te a mão. Dás-me um abraço, retribuo. Sussuras, sorrio. Armadilha, armadilha! Não vou, não quero fugir às minhas regras. As minhas normas eram iludir-me a cada sensação, gerir o sabor da minha vida. Não, não quero dar-te esse cargo. Não te vou deixar controlar a minha felicidade. Vai. Vai! Ninguém tem o direito de me tirar a felicidade! Não vou deixar que o meu EU se venda e fique à mercê. Ao sabor dos teus desejos. Começam a ser variáveis a mais na equação. Vamos deixar isto linear e compreensível. Não quero elevar a complexidade...

Serei coerente. Mas deixem-me contar-vos um segredo: não posso mais passar uma noite a solo, não posso mais suportar as estrelas aqui tão perto, o luar ali tão presente. Sonho a tua companhia! Sonho num rio que corre sem fim, direitinho ao centro da galáxia, onde o espectáculo será emocionante e onde poderei finalmente deixar esta condição humana para trás. Vem pesando. Vem-se arrastando o dilema de consciências que trago dentro de mim.

Confiei-vos a diário da "minha" paixão. Apenas porque não há rostos e parece-me falar para uma entidade maior, para um super-ser que há-de iluminar-me. Que me há-de guiar de constelação em constelação, de parábola em parábola. Até que eu encontre e mate a barata que me faz comichão à noite na cama.

sábado, 13 de dezembro de 2008

os 3 silêncios

Distingua-se o silêncio da boca, o do espírito e o do desejo [Miguel de Molinos] encarando esta taxionomia não como uma simples sistematização de momentos de ruído ausente mas como de estados de repouso sensorial que permitem diminuir a actividade geral do cérebro em proveito do seu estado de consciência activa. O silêncio é o cofre do pensamento [Hélène Trocmé-Fabre] e só no seio deste é possível uma compreensão plena de matérias de elevada complexidade.
Mas o que aprendemos com o silêncio do desejo? Definindo-o como uma total ausência de noção de sensualidade própria e de predisposição para o envolvimento em qualquer relação íntima ele mostra-nos o caminho rumo à negação da animalidade grotesca ou do equilíbrio psicológico (o que em certos aspectos podem ser duas e a mesma coisa). Reparem bem a igualdade que acabou de se estabelecer: a negação da animalidade grotesca é equivalente à negação do equilíbrio psicológico (mas o equilíbrio psicológico não é a animalidade grotesca!). Estaremos a confundir sexualidade com a simples interacção social do dia-a-dia? Não será possível um equilíbrio psicológico fundado em actividades individuais e sociais equilibradamente distribuídas sem que para tal tenha de acontecer primeiro o envolvimento íntimo e segundo o orgasmo como expressão de um bem comum à humanidade?
É em tempos de abstinência que o indivíduo sente a pulsão irracional rumo ao sexo oposto que não encontra paralelo nem se revê nos seus ideais de vida. Será então possível um silêncio do desejo que nos permita aprofundar mais comodamente o tema que nos ocupa? Se cada vez que o silêncio impera o ruído do instinto não consciente se sobrepõe à ansiada calma reflexiva será possível uma interpretação fiável? Com tanto ruído não, desliguem a máquina por favor...