Distingua-se o silêncio da boca, o do espírito e o do desejo [Miguel de Molinos] encarando esta taxionomia não como uma simples sistematização de momentos de ruído ausente mas como de estados de repouso sensorial que permitem diminuir a actividade geral do cérebro em proveito do seu estado de consciência activa. O silêncio é o cofre do pensamento [Hélène Trocmé-Fabre] e só no seio deste é possível uma compreensão plena de matérias de elevada complexidade.
Mas o que aprendemos com o silêncio do desejo? Definindo-o como uma total ausência de noção de sensualidade própria e de predisposição para o envolvimento em qualquer relação íntima ele mostra-nos o caminho rumo à negação da animalidade grotesca ou do equilíbrio psicológico (o que em certos aspectos podem ser duas e a mesma coisa). Reparem bem a igualdade que acabou de se estabelecer: a negação da animalidade grotesca é equivalente à negação do equilíbrio psicológico (mas o equilíbrio psicológico não é a animalidade grotesca!). Estaremos a confundir sexualidade com a simples interacção social do dia-a-dia? Não será possível um equilíbrio psicológico fundado em actividades individuais e sociais equilibradamente distribuídas sem que para tal tenha de acontecer primeiro o envolvimento íntimo e segundo o orgasmo como expressão de um bem comum à humanidade?
É em tempos de abstinência que o indivíduo sente a pulsão irracional rumo ao sexo oposto que não encontra paralelo nem se revê nos seus ideais de vida. Será então possível um silêncio do desejo que nos permita aprofundar mais comodamente o tema que nos ocupa? Se cada vez que o silêncio impera o ruído do instinto não consciente se sobrepõe à ansiada calma reflexiva será possível uma interpretação fiável? Com tanto ruído não, desliguem a máquina por favor...
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