terça-feira, 13 de janeiro de 2009

1001ª tentativa de explicitação

Quero chamar o comboio. Quero pedir-lhe que pare neste apeadeiro porque todas as almas penadas me enviaram missivas dizendo que "partiram no primeiro comboio sem bagagem ou sequer destino". Agora é a minha vez.

É estranho o significado semântico-literário dado mas sempre que uma personagem parte na primeira locomotiva sem saber onde dela vai descer é certo que procura algo maior e que sente que os céus deste ar que a rodeiam estão a desabar. Mas tudo isto não é preciso dizê-lo. Todo o zé-ninguém sabe, por experiência desafortunadamente própria ou porque já viu muitos sucumbirem à sua volta e espera pacientemente irritado a sua vez. Paciente porque é o destino. Irritado porque não o pode mudar.

Apenas um desejo de moribundo: no sistema bomba-rastilho em que eu sou a bomba e a linha da minha vida o rastilho peço que ninguém se intrometa. Deixa queimar, deixa ver chegar ao meu horizonte o fumozino branco da glória, deixa sentir o cheiro a fogo de artifício, deixa absorver a cor dessa chama libertadora. Talvez percebendo o fim próximo possa entrar em apoteose ainda em vida e chegar mais dentro, mais fundo do ser das coisas e do sabor dos sentimentos. Se nem esse propósito servir tenho outro desejo ainda: acende o rastilho mais próximo, quero sentir esse calor perto!

Porquê essa angústia de me ver entre a espada e a parede? Caminho no fio de uma navalha com a ponta de um sabre a picar-me as costas e dois canos cerrados encostados ao meu "peito em chamas". A massa encefálica pesa-me. O olhos semi-cerram-se. O sobrancelha franze-se e a atenção prende-se ás pedras da calçada. Rostos que não quero ver, corpos que não quero cheirar. Ninguém tem nada para partilhar. Não conheço os vizinhos e sei que me amaldiçoam por entre os dentes se tento ser simpático e cordial. Fazes-me falta ò liberdade espiritual.

De manhã fui ver o mar, à tarde fui ver o mar, à noite fui ver o mar. Ele partilha-se. Mostra a sua fúria e a sua calma e com alguma sorte até nos sopra algum do seu humor. Só tem um defeito: não se interessa pelo que tenho para lhe dizer e mostra-se impassivo ás minhas conclusões triunfais ou ás minhas dúvidas mortais.

Afinal, apenas mais uma tentativa frustrada de ligar logicamente frases e parágrafos. Essa maturidade, como outras, há-de um dia chegar...(até para ser rei é preciso nascer, crescer e reinar!)

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