segunda-feira, 30 de março de 2009

confiança

O que é bonito neste mundo, e anima, 
É ver que na vindima 
De cada sonho 
Fica a cepa a sonhar outra aventura... 
E que a doçura 
Que se não prova 
Se transfigura 
Numa doçura 
Muito mais pura 
E muito mais nova... 

Miguel Torga

súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas, 
E que nele posso navegar sem rumo, 
Não respondas 
Às urgentes perguntas 
Que te fiz. 
Deixa-me ser feliz 
Assim, 
Já tão longe de ti como de mim. 

Perde-se a vida a desejá-la tanto. 
Só soubémos sofrer, enquanto 
O nosso amor 
Durou. 
Mas o tempo passou, 
Há calmaria... 
Não perturbes a paz que me foi dada. 
Ouvir de novo a tua voz seria 
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga

quarta-feira, 25 de março de 2009

cat stevens - wild world


Now that I've lost everything to you,
you say you want to start
something new,
and it's breaking my heart you're leaving,
baby I'm
grieving.

But
if you wanna leave take good care,
hope you have a lot of nice things to wear,
but then a lot of nice things turn bad out there.

Oh baby baby it's a wild world,
it's hard to get by just upon a smile.
Oh baby baby it's a
wild world.

I'll always remember you like a child, girl.
You know I've seen a lot of what the world can do,
and it's breaking my heart in two,
cause I never want to see you
sad girl,
don't be a bad girl,
but
if you want to leave take good care,
hope you make a lot of nice friends out there,
but just remember there's a lot of bad and beware,
beware,

Oh baby baby it's a wild world,
it's hard to get by just upon a smile
Oh baby baby it's a wild world,
and I'll always remember you like a child, girl.

Baby I love you, but if you wanna leave take good care,
hope you make a lot of nice friends out there,
but just remember
there's a lot of bad,
and beware, beware,

oh baby baby it's a wild world,
it's hard to get by just upon a smile.
Oh baby baby it's a wild world,
and I'll always remember you like a child, girl. 

domingo, 15 de março de 2009

sensational

"I never travel without my diary. One should always have something sensational to read in the train"

Oscal Wilde

terça-feira, 10 de março de 2009

lit up a candle, show me the way

"deus pai todo poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna"..."senhor eu não sou digno que entreis em minha morada mas dizei uma só palavra e serei salvo"..."deus do deus, luz da luz, deus verdadeiro, deus verdadeiro, gerado não criado"..."por ele todas as coisas foram feitas e por nós homens e para nossa salvação desceu dos céus e no seio da virgem maria encarnou e se fez homem"..."saudai-vos na paz de cristo"..."perdoai-nos as nossas ofenças assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação"..."de igual modo no fim da ceia tomou o cálice e deu graças dizendo tomai todos e bebei este é o meu sangue que será derramado por vós"..."ide em paz e que o senhor vos acompanhe" - Graças a DEUS

A urna (politicamente incorrecto chamá-la de caixão) lá ao fundo. Mantenho-me firme. Nem lágrimas nem ladainhas. A contradição da crença humanizada deixa-me apático (escusado será referir a apoteóse do cestinho da esmola em plena celebração, cúmulo da satisfação "espiritual").

Creio em mim. Em sentir o cérebro queimado por ser um ignorante que gosta de aprender. Em sentir os músculos clamar pelo fim e não lhes ceder. Em sentir o sorriso que brota de dentro ao olhar a linha que não existe, lá no fundo. Em procurar o meu rumo. Em sentir cada batalha perdida e mesmo assim não desistir. Em lançar-me em becos sem saída só para aprender como escavar paredes. Em realizar que a luta diária não mudará o mundo mas tornar-me-á mais eu. Creio eu um só eu.

Mas, sei-o, todos os credos têm as suas contradições. Comecemos então. Quantas vezes me apeteceu gritar "lit up a candle, show me the way"? Lançar um pedido de socorro? Pedir que me levem em braços quando embato violentamente no fundo do poço? Um lamento não ouvido, um carinho não recebido. Uma luz ao fundo do túnel que nunca se acendeu. Tropecei, caí... É como falar no fundo do mar, inútil. Poderia procurar por essas ruas o meu eco. Nada encontrar ou o meu destino achar.

O eco não retorna, a alma está despida. Exposta. Todos fixam o olhar no passeio e evitam olhar de frente. Serei a luz? Não, bem mais modesto. Nestes momentos, sou um pseudo-eu à procura de algo fugaz. Inalcançável. 

domingo, 1 de março de 2009

sublevação

Sempre, antes de me deitar, alinho a margem inferior da folha vazia com o limite da secretária. Perfeitamente paralela à margem lateral esquerda, a uma distância uniforme de três dedos, deixo que descanse a caneta. Até aqui a melodia é serena e com maior ou menor esforço consigo que o sono e o sonho se fundam numa só pedra filosofal.

Mas, invariavelmente, quando os primeiros fios dourados ameaçam trazer a claridade os sinos repicam-se e os violinos esfregam-se a um ritmo desenfreado, melodramático. Todas as manhãs encontro a folha amarrotada em forma de Terra e a caneta, sangrada, espetada de um lado a outra como eixo de rotação desta bola de papel. Ao observar este cenário recordo-me, também invariavelmente, de que tinha algo sobre que escrever. Passado, recordações, sentimentos, euforias, calores, frios, ansiedades, planos,... Era um livro de histórias, um romance em Verona, umas memórias, um ensaio filosófico, uma teoria política, uma patente, um teorema,... Esfumou-se. Perfeito: dado o trabalho racional do dia anterior como perdido começa a ficar tarde e tenho de começar a teorizar para que amanhã, sim esse vai ser o dia, consiga ao menos inspirar o título.

E isto sempre, em eterno retorno. Começo a pensar se não estarão as ursas, a maior e a menor, com a ajuda da polar de alguma forma a conspirar, preparando-me, todas as madrugadas, o cenário que torna vãs as minhas ligeiras progressões.

Poderia, uma vez, experimentar escrever pela noite e espantar de vez o vilão mostrando que até sou capaz. De escrever o pensado, pensar o escrito e assim triunfar entre duas realidades que, para sentirem que estão em casa, chamam sempre a sua irmã, Solidão.

Talvez um dia, quem sabe.