domingo, 21 de dezembro de 2008

iron maiden - wasted years

fim do dia...

Quando as trevas chegam sente-se. Sente-se a falta de alguém que preencha esta nesga dolorosa do nosso tempo. Por muito grandioso que seja o objectivo que perseguímos desde o primeiro piscar de olhos ao acordar ele parece vão e supérfulo se não temos quem nos responda a sentimentos gritantes de frustrações e alegrias palpitantes (podendo estar a mesa de jantar cheia de gente e a sala carregada de mentes sucumbidas à caixa negra).
 
Não tomem a narração como ode ao meu fado. Nem tão pouco como pedido de socorro deste eu desgraçado. São coisas pequenas e bizarras as dúvidas precoces que me abalam quando na rua tudo sossega e sob o manto escuro me escondo. Não são questões a levar em conta nem motivos de grande preocupação externa. Só a mim doem, só a mim fustigam...
 
Ao fim do dia perguntas-me, Que fizeste hoje?, Eu? Inventei a roda 15 vezes (e tentei escrever como Saramago uma única!). Nada de inovador saíu deste cérebro calejado (já que as mãos nunca viram o arado!) e apenas uma questão se formulou contra o pré-estabelecido: será este o caminho para um conhecimento profundo, enriquecido e capitalizadamente inovador (não ao capitalismo!) que um dia sonhei possuir como única maneira de conseguir olhar o Sol de frente e deixar as sombras platónicas a quem com elas se contente?
 
Mas, sem rodeios nem hesitações, grito: fazes-me falta oh lar doce quente! Que se dane a construção teória do sinal contínuo ou discreto ou a tentativa filosófica de gestão do meu pobre espírito cortando-lhe lenha para que um dia se queime. Se me calo perante o mundo é porque do mundo nada ouvi passível de um momento reflexivo curto ou longo e dopaminante (e eu aprendo com os erros dos outros!).
 
Resumidamente, e para terminar, depois do tu-cá-tu-lá diário com o Diabo é cortante não encontrar uma chávena fumegante de acolhimento servida à ceia. Acolhe o meu sentimento, não o meu eu que procura respostas numéricas em livros interessantes mas delapidados de vida...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

super-ser

Quero deixar aqui um acto de coragem. Quero revelar-me. Quero que saibam que não sou quem vêem, que não sou quem sou...

Sentir que o próprio chão já não nos suporta faz-nos bem, faz-nos voar! Haverá algum problema em a minha vida ser sonho sem tristeza nem mágoa que o acordar não apague? Doce sonho que vieste, recordarte-ei. Pesadelo intrometido, estás esquecido! A fórmula é simples. Ou pelo menos parece. Para quê exigir-me subir ao topo daquela alta montanha se lá posso chegar sem mesmo dar um passo? Que ganho em realmente tocar o pico mais alto? Se conseguir iludir os meus sentidos, se conseguir imaginar realidades com todos os pormenores viverei como e onde quiser sem me preocupar com o que os outros pensem. Rindo-me por dentro. Esboçando sorrisos que nunca ninguém será capaz de partilhar. Isto de sonhar desta maneira é uma arte só minha, só minha...

Não tens o direito de me acordar (arrancarias a alguém a felicidade?!). Tu que brincas assim desse jeito disconforme com os meus padrões. Tu que não me és nada. Tu que me deixas ligeiramente enjoado. A banda sonora das nossas vidas está desajustada aos sentimentos momentâneos. Nunca sentiste a necessidade de numa determinada cena da tua vida ouvir o sussurro de uma música como nos filmes? Concentra-te, e aí a terás. Será só tua, só tua...

E desta forma seremos só nós, só nós: os entes felizes de uma esfera achatada e sem rumo. Dás-me a mão, dou-te a mão. Dás-me um abraço, retribuo. Sussuras, sorrio. Armadilha, armadilha! Não vou, não quero fugir às minhas regras. As minhas normas eram iludir-me a cada sensação, gerir o sabor da minha vida. Não, não quero dar-te esse cargo. Não te vou deixar controlar a minha felicidade. Vai. Vai! Ninguém tem o direito de me tirar a felicidade! Não vou deixar que o meu EU se venda e fique à mercê. Ao sabor dos teus desejos. Começam a ser variáveis a mais na equação. Vamos deixar isto linear e compreensível. Não quero elevar a complexidade...

Serei coerente. Mas deixem-me contar-vos um segredo: não posso mais passar uma noite a solo, não posso mais suportar as estrelas aqui tão perto, o luar ali tão presente. Sonho a tua companhia! Sonho num rio que corre sem fim, direitinho ao centro da galáxia, onde o espectáculo será emocionante e onde poderei finalmente deixar esta condição humana para trás. Vem pesando. Vem-se arrastando o dilema de consciências que trago dentro de mim.

Confiei-vos a diário da "minha" paixão. Apenas porque não há rostos e parece-me falar para uma entidade maior, para um super-ser que há-de iluminar-me. Que me há-de guiar de constelação em constelação, de parábola em parábola. Até que eu encontre e mate a barata que me faz comichão à noite na cama.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

aborrecimento

"Quer queiramos quer não, na vida há que fazer algo. Não tolera o vazio de todo o fazer. Quando se eludem os demais fazeres, apresenta-se um dos mais angustiantes: o aborrecimento, que é a terrível tarefa de fazer tempo, de suster a pulso uma vida oca, a mais pesada de todas, a que se desmorona a cada minuto do seu decurso." (Ortega y Gasset in O que é o conhecimento?)

domingo, 14 de dezembro de 2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

de um futuro presente

[Ortega y Gasset] Que dizer da noção oculta mas facilmente perceptível de que o futuro condiciona o presente e não o inverso? Faço vénia ao autor por me ter feito reconhecer o que de tão trivial nunca me tinha passado pela imaginação: o futuro projectivo não é mais do que a pressão essencial para nos fazer viver o presente. Seria eu o que sou hoje se não tivesse em mente o que quero ser (ou o que alguém ou alguma coisa quer que eu seja) amanhã?
Um "obrigado" ao autor: acabou de arruinar a minha noção de momentos felizes transformando-os em simples instrumentos de um amanhã que há-de ser melhor, esperemos...

os 3 silêncios

Distingua-se o silêncio da boca, o do espírito e o do desejo [Miguel de Molinos] encarando esta taxionomia não como uma simples sistematização de momentos de ruído ausente mas como de estados de repouso sensorial que permitem diminuir a actividade geral do cérebro em proveito do seu estado de consciência activa. O silêncio é o cofre do pensamento [Hélène Trocmé-Fabre] e só no seio deste é possível uma compreensão plena de matérias de elevada complexidade.
Mas o que aprendemos com o silêncio do desejo? Definindo-o como uma total ausência de noção de sensualidade própria e de predisposição para o envolvimento em qualquer relação íntima ele mostra-nos o caminho rumo à negação da animalidade grotesca ou do equilíbrio psicológico (o que em certos aspectos podem ser duas e a mesma coisa). Reparem bem a igualdade que acabou de se estabelecer: a negação da animalidade grotesca é equivalente à negação do equilíbrio psicológico (mas o equilíbrio psicológico não é a animalidade grotesca!). Estaremos a confundir sexualidade com a simples interacção social do dia-a-dia? Não será possível um equilíbrio psicológico fundado em actividades individuais e sociais equilibradamente distribuídas sem que para tal tenha de acontecer primeiro o envolvimento íntimo e segundo o orgasmo como expressão de um bem comum à humanidade?
É em tempos de abstinência que o indivíduo sente a pulsão irracional rumo ao sexo oposto que não encontra paralelo nem se revê nos seus ideais de vida. Será então possível um silêncio do desejo que nos permita aprofundar mais comodamente o tema que nos ocupa? Se cada vez que o silêncio impera o ruído do instinto não consciente se sobrepõe à ansiada calma reflexiva será possível uma interpretação fiável? Com tanto ruído não, desliguem a máquina por favor...