sábado, 4 de julho de 2009

não, não...

não me beijes os lábios, não passam de histórias para adormecer.
não me enterres em 1001 lençóis, são instintos a que não quero ceder.
não grites "para sempre", promessas nunca para cumprir.
não fales da cor dos cabelos e dos nomes dos nossos filhos, jamais verão a luz do mundo.

aquece-me a testa com o roçar da tua boca em gesto de compreensão e deseja-me boa missão.

até sempre,
(mas afinal de que servem despedidas se all the damn world is just a strange illusion?)

[o personagem desaparece de cena envolto em fumo, apenas uma forma de tornar misteriosa a queda de um anjo]

[ajoelha perante a Luz]

- aqui me tens conhecimento superior. não mais serei eu para ser parte de ti. renunciei.

[apaga-se a Luz]

"afinal que fazia eu num mundo onde imperam deuses que não os da minha fé?"
(renunciei. mas não em vão!)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

message in a bottle...

"Walked out this morning, don't believe what I saw
Hundred billion bottles washed up on the shore
Seems I'm not alone at being alone
Hundred billion castaways, looking for a home"
Police

domingo, 14 de junho de 2009

carandiru

"a vida é um carrocel e pra mim um cavalinho não chega..."
in Carandiru

sexta-feira, 22 de maio de 2009

alfa e ómega

Foi um salto quântico, o que é que me deu? Brincar com o fogo e engolir espadas já não devia fazer parte do meu imaginário senil. As razões foram um cenário que evocou um déjà vu e uma recordação que recolocou as personagens, tu e eu, naqueles papeis (a esta hora com cheiro a mofo e amarelecidos).

Divergências no destino que provam a inutilidade de escolhas que pensei axiomáticas e indispensáveis. No fim, tornaram-se em meros passa-tempos, quebra-cabeças, actividades a que o cérebro se entrega porque não tem unhas para roer. O seu efeito num oceano imenso de alternativas aleatórias torna o seu valor residual.

Tudo isto não são mais que esperas prolongadas por um destino que me olhe nos olhos. Nem de cima para baixo nem de baixo para cima. Ao nível. Cruzar-me-ei com ele na rua, entre um cisma e o outro. Mas não haverá nem alfa nem ómega. Será simples, como os passos que dou até ele.

(...)

terça-feira, 7 de abril de 2009

umas águas...



A quem ainda não viu e tiver oportunidade de ver este senhor ao vivo recomendo!

domingo, 5 de abril de 2009

um somos poucos para fazer uma tribo

Tenho a garganta arranhada do fumo quente. A vista turvada pela sangria que arde. Sei que mais ninguém se importa. De hoje em diante acordarei todas as manhãs numa cama diferente e serão 365 ao todo. Farei o garrote bem apertado e deixarei que a colher fique branca por cima e negra por baixo, queimada ao calor da vela. Nada levarei comigo que me canse os ombros. Conhecerei o pôr-do-sol e a madrugada de mil cidades.

A minha mais recente conquista foi uma teoria: a inconstância destes tempos faz com que se morra muitas vezes. Morremos porque mudamos. Simples. Morrer é deixarmo-nos de nos ver. De nos ligar. Porque sim e não porque o pedíssemos. Advinha? Porque morremos. Já nem sequer me lembro de como foi o cortejo fúnebre nem se havia convidados. Morri e espero calmamente. Incubo a frio uma nova visão sobre o mundo, um novo ponto de vista, um ideal diferente do que morreu. Porque o mataram? Porque o cegaram.

Guardo todo este carinho (nunca pensaste que o pensamento chegasse a esta estrada deserta, confessa) e toda esta vontade de partilhar para quem (não existe) me diga que não quer nada em troca. Que me quer apenas saber vivo para que seu coração bata. E aí darei, esbanjarei tudo o que me restar e saberei onde dorme o sol nas noite frias de luar.

Até lá, juro e jurarei beber da minha liberdade e viverei 100 anos para me ver cair. Renunciarei à roda livre dos sentimentos (em que se mudam cheiros e braços mas não as falsas palavras). Tornarei a rotina dos dias redundante. Procurarei o brilho no olhar, não o objectivo a alcançar. Estranho ser este, que perguiça por abrir as asas em aerodinâmica louca e prefere o ninho de pauzinhos, certo, amante, acorrentado.

Serão 365 as noites. 365 os dias. Tenho fé (não em deus, for god's sake) que a força que me percorre as veias não mais se apagará. Não haverá rescaldo. Só mortes intermédias, inevitáveis como teoricamente previ...

segunda-feira, 30 de março de 2009

confiança

O que é bonito neste mundo, e anima, 
É ver que na vindima 
De cada sonho 
Fica a cepa a sonhar outra aventura... 
E que a doçura 
Que se não prova 
Se transfigura 
Numa doçura 
Muito mais pura 
E muito mais nova... 

Miguel Torga